A internet é o mais novo teatro.
As redes sociais digitais, o palco.
As pessoas que navegam são os milhares de espectadores.
Você, obviamente, é a personagem do espetáculo que passou a chamar de vida.
Pra que tenha público sempre te vendo, inova as narrativas, inventa gostos e cria outros de si.
Claro, tudo precisa ser cativante. Você precisa prender quem te assiste: alta performance, alto rendimento, sorrisos, felicidade, status, checklist.
→ Acordei às 5h.
→ Malhei às 6h.
→ Li livros de intelectuais moderninhos.
→ Meditei.
→ Comi legumes.
→ Olha, eu adoro meu trabalho!
→ Dormi às 21h.
Blá.
Ah, claro... tudo isso precisa ser postado. Senão, não foi efetivo.
Sorrateiramente, você diz pra si mesmo:
Preciso marcar o meu ponto.
Preciso que me vejam fazer.
Preciso que me curtam.
Preciso que me validem.
Isso vai consumindo sua autenticidade pra que alimente uma personagem que vive para ser gostado, likado, comentado e validado por pessoas que, no fundo, nunca estiveram nem aí pra nada além delas mesmas.
Perceba que, no final, tanto o espectador quanto você, personagem, vivem correndo atrás da mesma coisa: exaltação. Divulgação pública de um “eu” admirado e requisitado.
Quando você cai em si, percebe que está acreditando num “eu” totalmente irreal.
Nesse “eu” construído não existe a cor de uma vida vivida, apenas inaptidão pra sentir o sabor das experiências que foram gravadas apenas pelas lentes dos olhos, vivendo nos backstages de uma jornada que vale muito mais que validações alheias.
Você virou um produto.
Seu tempo virou mercadoria.
Sua imagem, uma vitrine.
Se você não posta, você não existe.
Se não performa, desaparece.
Se não agrada, é descartado.
O problema é que, quanto mais você se molda pra ser aceito, mais se desconecta do que te faz único. Sua autenticidade morre à medida que você vive para os outros e a sua vida vai dependendo de reações de desconhecidos.
Métrica de valor virou um número de likes e ser verdadeiro se torna caro porque autenticidade exige coragem.
O palco é sedutor, e os holofotes viciam. O problema é que eles também te cegam e não te deixam se enxergar no reflexo da verdade.
Quem não aprende a viver fora do palco, infelizmente, morre dentro dele.
Eu parei de viver uma vida que sempre necessitou de validação externa pra viver uma vida conformada aos meus valores e princípios. Tem gente que gosta, outros odeiam. E tudo bem. Esse é o Jônatas que quero ser: autêntico, com identidade, com opiniões fortes, com experiências e relacionamentos que me fizeram ser quem eu sou. Não posso fugir de quem sou.
Esse escrito não é um chamado pra viver como acha que deve (assim como eu, você talvez tenha convicções em construção — e algumas delas até erradas), mas um chamado pra uma análise que te faça enxergar e viver a sua identidade sem necessariamente ter que encontrá-la em outras pessoas.
Não venda sua autenticidade por alguns likes, reações, aceitação e aprovações alheias. A vida de verdade, as melhores pessoas e experiências mais legais geralemente estão nos backstages da jornada. Ela é bem mais divertida quando não é divulgada, mas vivida com gosto.